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HÍMEROS è um Colóquio sul-americano sobre essa temática, com 40 trabalhos já confirmados, exposição de pôsteres e vídeos, que serão selecionados, e a pré-estreia de "O ATO" - variações freudianas 2, pela Cia. Inconsciente em Cena. Confira os Palestrantes confirmados com os títulos de suas comunicações em 'PROGRAMAÇÃO'.

domingo, 7 de abril de 2013

ARTES PLÁSTICAS EM LACAN II


 


BREUGHEL

A PARÁBOLA DOS CEGOS

 

   "O qual só podemos introduzir aqui, relembrando o que ensinamos sobre o desejo, a ser formulado como desejo do Outro, por ser, originalmente, desejo de seu desejo. O que torna concebível a harmonia dos desejos, mas não sem perigo. Pela simples razão de que, ao se ordenarem numa cadeia que se assemelha à procissão de cegos de Breughel, cada um, sem dúvida, tem a mão na mão daquele que o precede, mas ninguém sabe para onde todos estão indo.”

                                                                                                            J.Lacan                         

(Escritos: Kant com Sade)

 
 

ARCIMBOLDO
O BIBLIOTECÁRIO

19 de Abril de 1961

   “(...) tendo, por exemplo, de representar a figura do bibliotecário de Rodolphe II, Arcimboldo o fez por uma reunião complicada de utensílios principais da função do bibliotecário, a saber, os livros dispostos sobre o quadro de maneira que a imagem de um rosto seja, mais que sugerida, verdadeiramente imposta.

   (...) este procedimento maneirista consiste em realizar a imagem humana na sua figura essencial pela coalescência, combinação, acumulação, de um amontoado de objetos (...) estes objetos, que têm de qualquer modo uma função de máscara, mostram ao mesmo tempo a problemática desta máscara (...) a função tão essencial da persona, que está todo o tempo no primeiro plano da economia da presença humana (...) se há necessidade de persona é que por trás, talvez, toda forma se dissimule e se esvaia.”

J. Lacan

(Seminário 8: A Transferência)

 

 
MUNCH


             O GRITO

 

17 de Março de 1965

 

 

"Na demanda ao Outro, o sujeito demanda (...) que o Outro fale (...) é aqui

(..,) que(...) a reprodução de Munch é (...) uma figura que me parece propicia para articular para vocês um ponto maior(...) que se chama o silêncio.

(...) o que é o grito? Quem ouviria este grito que nós não ouvimos? (...) ele impõe esse reino do silêncio (...) no espaço fielmente centrado e aberto. Parece ali, que este silêncio é de qualquer modo o correlativo que distingue na sua presença este grito de toda outra modulação imaginável (...) O grito faz de qualquer modo o silêncio se refugiar no impasse mesmo de onde ele jorra para que o silêncio escape, mas já está feito.

    Quando nós vemos a imagem de Munch, o grito está atravessado pelo

espaço do silêncio, sem que  ele o habite. Eles não estão ligados nem por 

estarem juntos, nem por se sucederem. O grito faz o abismo onde o silêncio se precipita.”

 

                                            J.Lacan

(Seminário 12: Problemas Cruciais para a Psicanálise)

 

JOHN EVERETT MILLAIS



  OFÉLIA

 

4 e 1l de Março de 1959

 

   “O barômetro da posição de Hamlet em relação ao desejo. nós o temos sob a forma do personagem Ofélia (...) é uma das criações mais fascinantes propostas à  imaginação humana.  Alguma coisa que nós podemos chamar de o drama do objeto feminino. O drama do desejo do mundo que aparece no limite de uma civilização sob a forma de Helena. (...) encarnada no drama e na infelicidade de Ofélia (...) foi retomado sob inúmeras formas pela criação estética, artística. (...) pelos pintores (...) na época pré-Rafaelista (...) Ofélia flutuando em seu vestido na correnteza em que ela se deixa, em sua loucura, levar. O quadro de Millais (...).”

 

J.Lacan

(Seminário 6: O Desejo e a sua Interpretação)

 

 

DA VINCI


SÃO JOÃO BATISTA

 

   “A qual silêncio deve se obrigar agora o analista para descobrir sob este lodo o dedo erguido de São João de Leonardo, para que a interpretação encontre o horizonte desabitado do ser onde deve se desdobrar sua virtude alusiva?”

 

J. Lacan

(Escritos: A Direção da Cura)

 

 

DEGAS


SEMIRAMIS

 

 

“Há talvez mais de uma origem deste fenômeno estupefante que é a descoberta do inconsciente. O século XIX foi surpreendentemente dominado pela ação de uma mulher, a saber, a rainha Vitória. Sem dúvida precisava-se desta espécie de devastação para que houvesse o que chamo de um sonho.

(...) a rainha Vitória, vá lá uma mulher, não a mulher, que não existe, mas uma mulher entre outras (...) da medida excepcional da rainha Vitória (...) uma mulher que é rainha; é o que verdadeiramente se faz de melhor como vagina dentada, é mesmo uma condição essencial – Semíramis devia ter uma vagina dentada, se vê bem quando Degas a desenha.”

 

                       J.Lacan

(Seminario 22: RSI)

  

VAN GOGH



AS BOTAS

22 de Junho de 1960

 

   “Comecem a ver viver as Botas de Van Gogh nas suas incomensuráveis qualidades de belas.

   Elas estão lá, elas nos fazem um signo de inteligência, situado muito precisamente a igual distância do poder de imaginação e daquele do significante. Este significante não está mesmo mais lá significando a marcha, a fadiga (...), do calor humano, ele é apenas significante do que significa um par de botas abandonado, quer dizer por sua vez de uma presença e de uma ausência pura.

   O que (...) faz destas botas uma espécie de contrário e de análogo a um par de brotos, mostra que não se trata aí de imitação, (...) mas, de pensar deste par que, (...) eles são por eles mesmos a manifestação visível do belo.”

J. Lacan

(Seminário 7: A Ética na Psicanálise)

 

CÉZANNE


AS MAÇÃS

10 de Fevereiro de 1960

 

   “(...) a finalidade da arte é de imitar ou não imitar? A arte imita o que representa? (...) no momento quando Cézanne faz as maçãs, ele faz outra coisa que imitar pomos, ainda que sua última maneira (...) seja mais orientada na direção de uma técnica de presentificação do desejo. Mas, quanto mais o objeto é presentificado que imitado, mais ele nos abre esta dimensão onde a ilusão fracassa e visa outra coisa (...) Há um mistério na maneira que tem Cézanne de fazer suas maçãs, porque a relação com o real (...) se renova na arte (...).”

J. Lacan

(Seminário 7: A Ética na Psicanálise)

  

VELÁZQUEZ
 

AS MENINAS

20 de Março de 1968

 

   “(...) no momento em que a perspectiva vem na própria estrutura (...) aí aparece esta estrutura fechada que é aquela a partir da qual pude tentar isolar para vocês (...) a função do pequeno objeto a que se chama o olhar (...) em torno do quadro das meninas eu fiz para vocês uma exposição (...) que é preciso tomar como (...) referência de conduta para o psicanalista.”

 

J. Lacan

(Seminário 15: O Ato Psicanalítico)

 


JACOPO ZUCCHI


PSICHE SORPRENDE AMORE

12 de Abril de 1961

   “(...) no museu de Borghèse (...) um quadro de um denominado Zucchi, (...) pintor (...) do primeiro período do maneirismo (...) de um quadro que se chama Psiche Sorprende Amore, isto é, Eros. É a cena clássica de Psiquê elevando sua pequena lâmpada sobre Eros, que é, já há algum tempo, seu amante noturno, nunca visto.

   (...) uma gota de óleo derramada revela Eros (...) um facho luminoso que parte da lâmpada (...) a inclinação desse facho não permite pensar que se trata desta gota de óleo, mas de um facho de luz.

   (...) este buquê e esta flor (...) vistos iluminados por trás (...) brilha uma luz intensa que incide sobre as coxas alongadas e o ventre do personagem que simboliza Eros ... impossível não ver aí (...) o órgão que deve automaticamente se dissimular por trás deste buquê de flores (...) o falo de Eros.”

J. Lacan

(Seminário 8: A Transferência)