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HÍMEROS è um Colóquio sul-americano sobre essa temática, com 40 trabalhos já confirmados, exposição de pôsteres e vídeos, que serão selecionados, e a pré-estreia de "O ATO" - variações freudianas 2, pela Cia. Inconsciente em Cena. Confira os Palestrantes confirmados com os títulos de suas comunicações em 'PROGRAMAÇÃO'.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

HÍMEROS

 APRESENTAÇÃO
 
Se o artista  antecede o psicanalista, a psicanálise deve-se deixar aplicar pela arte. Eis a única maneira para que ela se separe de sua origem médica, pois é “a última flor da medicina” (Lacan). E isso sem deixar de ser um tratamento: o tratamento do real pelo discurso.  Não existe psicanálise “aplicada” à obra de arte, pois a psicanálise como tratamento pelo discurso só se aplica a sujeitos. No entanto, existe a arte aplicada à psicanálise para que tampouco esta não caia nas teias das aderências psis que permitiram uma ego psychologie e nem na pura lógica matemática de acento paranóico cedendo à tentação científica de foracluir o enigma do ser falante.  Entre o matema e o poema, duas formas de tratamento do real: a primeira procura cingi-lo, o segundo representá-lo. Lacan passou do matema ao poema como norte da prática do analista.




 A psicanálise sempre foi  tributária da arte: a tragédia de  Sófocles deu a Freud a pista para o complexo de Édipo e para um gozo para além do princípio do prazer, de Shakesperare sua forma neurótica e disfarçada na patologia do ato, Leonardo da Vinci  lhe deu a estrutura da fantasia e as vicissitudes da pulsão escópica; Jansen, o delírio histérico e a interpretação analítica a partir da equivocidade das palavras, Michelangelo, a definitiva morte do pai, etc. Para Lacan, só para citar dois conceitos fundamentais: o objeto a  é  tributo da pintura com o lahr e do som do Shofar com a voze;  a letra, recebeu-a do retrato do artista quando Joyce e sua letter-liter. A psicanálise é também por ambos considerada uma arte:  di pore e di levare; fiat lux e fiat vox!
É desse lugar da arte antes da psicanálise – e não ao contrário - que artistas  e psicanalistas são convidados a se expressarem. Lacan foi na Idade Média para encontrar um lugar próprio para a psicanálise: ela está entre a artes liberais.
O psicanalista  deve (soll) deixar-se ensinar pelo inconsciente artista. O inconsciente literato e sua prática da letra. O inconsciente musical estruturado  pela canção de  lalíngua que compõe a enunciação.  O inconsciente plástico que retrata e abstrai, esculpe e modela, pinta e bordeja a paisagem do  mundo. O inconsciente performático com seus atos, passagens ao ato e atuações e criações. O inconsciente teatral como palco de gozo de sua escritura cênica de fantasias.   O inconsciente cinematográfico com seus planos-sequência e mise em abîme  que fazem do sonho seu paradigma. Por eles se esparrama a Outra Cena.
A psicanálise aplicada pela arte a um sujeito. Freud chamou a fala do analista de “arte da interpretação” e Lacan a qualificou como poética. E seu ato deve ao teatro o conceito de semblante (faz-de-conta) que longe de ser falso, é um fazer no real com base na verdade. “A arte, diz Alain Badiou,  é rigorosamente coextensiva às verdades que prodigaliza – essa verdades não são dadas em nenhum outro lugar a não se na arte”. É só por meio do semblante, calcado numa verdade, que se Poe alcançar o real.  Todas os artes participam do semblante (Aristóteles chamou de mímesis) que, ao fisgar o real   do  desejo, esperta o sujeito em sua verdade. Antígona de Sófocles, com Lacan, nos faz ver  “o ponto de virada que define o desejo... que vai em direção a uma imagem que detém não sei qual mistério e que faz arregalar os olhos no momento em que o olhamos”[1]. Essa imagem de Antígona fascina por produzir o himeros o reflexo do desejo, efeito de beleza que capta o espectador.
Hímeros é o reflexo do desejo que aparece no cristal da língua, no brilho da voz, na pincelada na tela, no timbre do músico, no gesto do ator e ... no ato do analista em sua enunciação.
Hímero é o brilho de um personagem de uma obra secular.  Imortal. Do lugar vazio êxtimo do entre duas mortes  nasce ex nihilo  o reflexo do desejo do artista –  um poema que se eterniza na poeira dos séculos. Hímeros é afirmação do duro desejo de durar, desejo de refletir  o que do nada se transfigura em arte.
 
Antonio Quinet
 









[1] Lacan, Seminário VII, p. 290.


















 



domingo, 21 de abril de 2013

COMUNICADO


Palestrantes confirmados com os títulos de suas comunicações:


Ana Laura Prates Pacheco (EPFCL- SP): Rosa com Joyce: a terceira margem e o quarto nó?

Ana Vicentini (UNB): Quando épos é práxis: ética analítica e ética trágica

Andrea Brunetto (EPFCL- Campo Grande- MTS/ Ágora): Pátrias, fronteiras: o exílio na escrita

Andréa Fernandes (EPFCL-Salvador/UFBA): Freud e Zweig: Psicanálise e Literatura

Antonio Quinet (EPFCL-Rio/UVA): Apresentação Hímeros, o brilho do desejo e Teatro e semblante

Antônio Teixeira (EBP-MG/FAFICH-UFMG): Ready for Love: Estética da violência e da exceção em ‘Clockwork Orange’

Auterives Maciel (UVA): A estética do deslimite: Manoel de Barros e arte brasileira contemporânea

Bárbara Guatimosim (EPFCL/UFMG): Kafka e a função da Letra

Beatriz Maya (EPFCL - Colômbia): Não suficientemente poata

Betty Fuks (UVA): Parla! O que a estátua de Moisés disse a Freud?

Christian Ingo Lenz Dunker (EPFCL-SP/USP): Para uma nova teoria do sujeito estético: Lacan com Badiou

Denise Maurano (CFAP/UNIRIO): Da cena trágica à cena analítica

Dominique Fingermann (EPFCL- SP): Poesia e psicanálise

Edson Luiz André de Sousa (UFRGS): Imagens não disponíveis- utopia, arte e psicanálise

Elisabeth da Rocha Miranda (EPFCL-RIO/UVA): Katherine Mansfield e o Bliss

Florencia Farias (EPFCL-AR/UBA): Teatro e psicanálise

Gabriel Lombardi (EPFCL- AR/UBA): A função tíquica na arte

Glória Sadala (FCCLRJ/UVA): O fazer poético

Gustavo Chataignier Gadelha (PUC-RJ): Acontecimento e dessublimação repressiva: por umacrítica da concordância

Ieda Tucherman (UFRJ): Encontros Imprevistos: Badiou e Manoel de Barros

José Eduardo Costa e Silva (UFES): Música e Inconsciente no Teatro

Luciano Elia (TFAP/UERJ): Por que a psicanálise não é arte?

Lucia Castello-Branco (UFMG): A prática da letra nos sonhos da literatura e da psicanálise

Marcelo Mazzuca (EPFCL-AR/UBA):Música e psicanálise

Marco Antonio Coutinho Jorge (CFAP/UERJ): Madonna– performance e transmissão poética

Maria Anita Carneiro Ribeiro (EPFCL-Rio/UVA): Shakespeare e as mulheres

Maria Cristina Poli (APPOA/ UVA / UFRJ): Mise en abyme e gozo feminino

Maria Helena Martinho (EPFCL-Rio/UVA): A arte de Rembrandt e Giacometti: uma escrita do real

Nina Leite (APE/ UNICAMP): Outrarte

Norman Mandarasz (PUC-RS): Na Corte da castração: Body Arte como produção de verdades

artísticas

Pedro Pascutti (CAPES): A interdisciplinariedade na pós-graduação

Raul Pacheco Filho (EPFCL-SP/PUC-SP): Repetição e contingência na obra de arte

Ricardo Rojas (EPFCL-Colômbia): Arte e interpretação

Rosane Melo (EPFCL-Rio/UFRRJ): Brincar: o tratamento do real

Sheila Abramovich (FCCLRJ/UERJ): a impressão - de um instante -que nos causa

Sonia Borges (EPFCL-Rio/UVA): Recuperação de gozo na criação

Tania Rivera (CF/UFF): A Arte e o Avesso do Imaginário

Teresa Nazar (ELP): A Escrita em Cena

Vera Pollo (EPFCL-Rio/UVA): O palco da histeria


Cordialmente,

Antonio Quinet - Presidente de Hímeros- I Colóquio de arte e psicanálise
Maria Anita Carneiro Ribeiro -Coordenadora da Comissão científica de Hímeros - I Colóquio de arte e psicanálise

domingo, 7 de abril de 2013

ARTES PLÁSTICAS EM LACAN II


 


BREUGHEL

A PARÁBOLA DOS CEGOS

 

   "O qual só podemos introduzir aqui, relembrando o que ensinamos sobre o desejo, a ser formulado como desejo do Outro, por ser, originalmente, desejo de seu desejo. O que torna concebível a harmonia dos desejos, mas não sem perigo. Pela simples razão de que, ao se ordenarem numa cadeia que se assemelha à procissão de cegos de Breughel, cada um, sem dúvida, tem a mão na mão daquele que o precede, mas ninguém sabe para onde todos estão indo.”

                                                                                                            J.Lacan                         

(Escritos: Kant com Sade)

 
 

ARCIMBOLDO
O BIBLIOTECÁRIO

19 de Abril de 1961

   “(...) tendo, por exemplo, de representar a figura do bibliotecário de Rodolphe II, Arcimboldo o fez por uma reunião complicada de utensílios principais da função do bibliotecário, a saber, os livros dispostos sobre o quadro de maneira que a imagem de um rosto seja, mais que sugerida, verdadeiramente imposta.

   (...) este procedimento maneirista consiste em realizar a imagem humana na sua figura essencial pela coalescência, combinação, acumulação, de um amontoado de objetos (...) estes objetos, que têm de qualquer modo uma função de máscara, mostram ao mesmo tempo a problemática desta máscara (...) a função tão essencial da persona, que está todo o tempo no primeiro plano da economia da presença humana (...) se há necessidade de persona é que por trás, talvez, toda forma se dissimule e se esvaia.”

J. Lacan

(Seminário 8: A Transferência)

 

 
MUNCH


             O GRITO

 

17 de Março de 1965

 

 

"Na demanda ao Outro, o sujeito demanda (...) que o Outro fale (...) é aqui

(..,) que(...) a reprodução de Munch é (...) uma figura que me parece propicia para articular para vocês um ponto maior(...) que se chama o silêncio.

(...) o que é o grito? Quem ouviria este grito que nós não ouvimos? (...) ele impõe esse reino do silêncio (...) no espaço fielmente centrado e aberto. Parece ali, que este silêncio é de qualquer modo o correlativo que distingue na sua presença este grito de toda outra modulação imaginável (...) O grito faz de qualquer modo o silêncio se refugiar no impasse mesmo de onde ele jorra para que o silêncio escape, mas já está feito.

    Quando nós vemos a imagem de Munch, o grito está atravessado pelo

espaço do silêncio, sem que  ele o habite. Eles não estão ligados nem por 

estarem juntos, nem por se sucederem. O grito faz o abismo onde o silêncio se precipita.”

 

                                            J.Lacan

(Seminário 12: Problemas Cruciais para a Psicanálise)

 

JOHN EVERETT MILLAIS



  OFÉLIA

 

4 e 1l de Março de 1959

 

   “O barômetro da posição de Hamlet em relação ao desejo. nós o temos sob a forma do personagem Ofélia (...) é uma das criações mais fascinantes propostas à  imaginação humana.  Alguma coisa que nós podemos chamar de o drama do objeto feminino. O drama do desejo do mundo que aparece no limite de uma civilização sob a forma de Helena. (...) encarnada no drama e na infelicidade de Ofélia (...) foi retomado sob inúmeras formas pela criação estética, artística. (...) pelos pintores (...) na época pré-Rafaelista (...) Ofélia flutuando em seu vestido na correnteza em que ela se deixa, em sua loucura, levar. O quadro de Millais (...).”

 

J.Lacan

(Seminário 6: O Desejo e a sua Interpretação)

 

 

DA VINCI


SÃO JOÃO BATISTA

 

   “A qual silêncio deve se obrigar agora o analista para descobrir sob este lodo o dedo erguido de São João de Leonardo, para que a interpretação encontre o horizonte desabitado do ser onde deve se desdobrar sua virtude alusiva?”

 

J. Lacan

(Escritos: A Direção da Cura)

 

 

DEGAS


SEMIRAMIS

 

 

“Há talvez mais de uma origem deste fenômeno estupefante que é a descoberta do inconsciente. O século XIX foi surpreendentemente dominado pela ação de uma mulher, a saber, a rainha Vitória. Sem dúvida precisava-se desta espécie de devastação para que houvesse o que chamo de um sonho.

(...) a rainha Vitória, vá lá uma mulher, não a mulher, que não existe, mas uma mulher entre outras (...) da medida excepcional da rainha Vitória (...) uma mulher que é rainha; é o que verdadeiramente se faz de melhor como vagina dentada, é mesmo uma condição essencial – Semíramis devia ter uma vagina dentada, se vê bem quando Degas a desenha.”

 

                       J.Lacan

(Seminario 22: RSI)

  

VAN GOGH



AS BOTAS

22 de Junho de 1960

 

   “Comecem a ver viver as Botas de Van Gogh nas suas incomensuráveis qualidades de belas.

   Elas estão lá, elas nos fazem um signo de inteligência, situado muito precisamente a igual distância do poder de imaginação e daquele do significante. Este significante não está mesmo mais lá significando a marcha, a fadiga (...), do calor humano, ele é apenas significante do que significa um par de botas abandonado, quer dizer por sua vez de uma presença e de uma ausência pura.

   O que (...) faz destas botas uma espécie de contrário e de análogo a um par de brotos, mostra que não se trata aí de imitação, (...) mas, de pensar deste par que, (...) eles são por eles mesmos a manifestação visível do belo.”

J. Lacan

(Seminário 7: A Ética na Psicanálise)

 

CÉZANNE


AS MAÇÃS

10 de Fevereiro de 1960

 

   “(...) a finalidade da arte é de imitar ou não imitar? A arte imita o que representa? (...) no momento quando Cézanne faz as maçãs, ele faz outra coisa que imitar pomos, ainda que sua última maneira (...) seja mais orientada na direção de uma técnica de presentificação do desejo. Mas, quanto mais o objeto é presentificado que imitado, mais ele nos abre esta dimensão onde a ilusão fracassa e visa outra coisa (...) Há um mistério na maneira que tem Cézanne de fazer suas maçãs, porque a relação com o real (...) se renova na arte (...).”

J. Lacan

(Seminário 7: A Ética na Psicanálise)

  

VELÁZQUEZ
 

AS MENINAS

20 de Março de 1968

 

   “(...) no momento em que a perspectiva vem na própria estrutura (...) aí aparece esta estrutura fechada que é aquela a partir da qual pude tentar isolar para vocês (...) a função do pequeno objeto a que se chama o olhar (...) em torno do quadro das meninas eu fiz para vocês uma exposição (...) que é preciso tomar como (...) referência de conduta para o psicanalista.”

 

J. Lacan

(Seminário 15: O Ato Psicanalítico)

 


JACOPO ZUCCHI


PSICHE SORPRENDE AMORE

12 de Abril de 1961

   “(...) no museu de Borghèse (...) um quadro de um denominado Zucchi, (...) pintor (...) do primeiro período do maneirismo (...) de um quadro que se chama Psiche Sorprende Amore, isto é, Eros. É a cena clássica de Psiquê elevando sua pequena lâmpada sobre Eros, que é, já há algum tempo, seu amante noturno, nunca visto.

   (...) uma gota de óleo derramada revela Eros (...) um facho luminoso que parte da lâmpada (...) a inclinação desse facho não permite pensar que se trata desta gota de óleo, mas de um facho de luz.

   (...) este buquê e esta flor (...) vistos iluminados por trás (...) brilha uma luz intensa que incide sobre as coxas alongadas e o ventre do personagem que simboliza Eros ... impossível não ver aí (...) o órgão que deve automaticamente se dissimular por trás deste buquê de flores (...) o falo de Eros.”

J. Lacan

(Seminário 8: A Transferência)

 

“O Ato” - variações freudianas 2

Compre já seus ingressos!  
Cia Inconsciente em Cena
APRESENTA 
“O Ato”
variações freudianas 2
(Obra em processo) 
Texto e concepção: Antonio Quinet
 
Direção: Walter Daguerre; Música: José Eduardo Costa Silva; Atores: Aline Deluna, Antonio Quinet, Samir Murad; Câmera: Diogo Fugimuri; Cenário: Aurora dos Campos; Luz: Daniela Sanchez; Direção de arte: Beto de Abreu; Figurinos: Isabela Massi; Preparação de voz: Rose Gonçalves; Assistentes de produção: Bruno Dias de Souza e Diana Aranha; Realização: Cia. Inconsciente em Cena; Produção: Atos & Divãs; Participação em vídeo de Julia Bernat, Juliana Terra, Monica Daguerre, Pamela Coto, Raul Serrador, Samantha Gilbert e  Samir Murad com fotografia  de Vinícius Brum. 
UMA PESQUISA SOBRE TEATRO E PSICANÁLISE  EFETUADA NO ÂMBITO DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÂO EM PSICANÁLISE, SAÚDE E SOCIEDADE/UVA -  MESTRADO E DOUTORADO (UVA)- :  
 Espetáculo sobre diversos tipos de ato à luz da psicanálise, baseada em casos escritos por Freud. Sátira dos programas de entrevistas e da sociedade contemporânea inspirada nas críticas de Lacan em Televisão 
NO talk show Variações freudianas da apresentadora Miranda de Souza, na noite do dia 20 de abril ela entrevistará o psicanalista David Wunschmann sobre o tema O ATO. Entre as atrações da noite: Mini-série Dora. o doco-drama  Os atos da jovem homossexual, além das habituais Surpresas da Miranda.
 
Evento: Hímeros – I Colóquio de arte e psicanálise (UVA)
Local: TEATRO TOM JOBIM no Jardim Botânico
Data: 20/04/2013
Horário: 18h  
Ingressos:  R$ 40,00 (inteira)
                       R$ 20, 00 (inscritos em Hímeros, estudantes, seniors) 
Inscrição via internet: Envio do nome completo e comprovante de inscrição de meia entrada e certificado de depósito para himeros.artepsicanalise@gmail.com.O depósito deverá ser feito em nome de Rosanne Grippi Lacerda, CPF 931752567-91, Banco Itaú Ag. 0532 - C/C 02552-5. Mais informações pelo telefone 21 86277420
 

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

FREUD E AS ARTES


FREUD E AS ARTES

RELAÇÃO DOS TRABALHOS DE FREUD QUE TRATAM PRINCIPALMENTE OU EM GRANDE PARTE DE ARTE, LITERATURA OU TEORIA DA ESTÉTICA. (VOL. XXI, p. 219)

[1897 Sobre Édipo Rei e Hamlet, na Carta 71 a Fliess, de 15 de outubro de 1897. (1950a)]

[1898 ‘Die Richterin’ (‘A Juíza’), na Carta 91 a Fliess, de 20 de junho de 1898. (1950a)]

1898 A Interpretação de Sonhos, Capítulo V, Seção D ( ), sobre Édipo Rei e Hamlet. (1900a)

1905 Os Chistes e sua Relação com o inconsciente. (1905c)

[1905-6 ‘Personagens Psicopáticos no Palco’. (1942a)]

1906 Delírios e Sonhos na ‘Gradiva’ de Jensen. (1907a)

1907 ‘Contribuição a um Questionário sobre Leitura’.(1907d)

1907 ‘Escritores Criativos e Devaneio’. (1908e)

1910 Uma Lembrança Infantil de Leonardo da Vinci. (1910c)

1913 ‘O Tema dos Três Cofres’. (1913f)

[1913 ‘As Reivindicações da Psicanálise ao Interesse Científico’, Parte II, Seção F. (1913j)

1914 ‘O Moisés de Michelangelo’. (1914b)

1915 ‘Sobre a Transitoriedade’. (1916a)

1916 ‘Alguns Tipos de Caráter Encontrados no Trabalho Psicanalítico’. (1916d)

1917 ‘Uma Recordação Infantil de ‘Dichtung und Wahrheit‘. (1917b)

1919 ‘O Estranho’.  (1919h)

1927 Pós-escrito a ‘O Moisés de Michelangelo’. (1927b)

1927 ‘O Humor’ (1927d)

1927 ‘Dostoievski e o Parricídio.’ (1928b)

1929 Carta a Reik sobre Dostoievski. (1930f)

1930 ‘O Prêmio Goethe’. (1930de )

1933 Prefácio a Edgar Allan Poe, de Marie Bonaparte. (1933d)

                        (Data inicial de quando foi escrito. Data final, da publicação.)

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Em: CARTA A FLIESS, 1897, vol. I, p. 316 – (LITERATURA -  SHAKESPEARE ) :

            “Passou-me pela cabeça uma rápida idéia no sentido de saber se a mesma coisa [ Édipo] não estaria também no fundo do Hamlet. Não estou pensando na intenção consciente de Shakespeare, mas acredito, antes, que algum evento real tenha instigado o poeta à sua representação, no sentido de que o inconsciente de Shakespeare compreendeu o inconsciente de seu herói. Como é que o histérico Hamlet consegue justificar suas palavras: “Assim a consciência nos torna a todos covardes”? Como é que ele consegue explicar sua hesitação em vingar o pai assassinado através do seu tio — ele, o homem que, sem nenhum escrúpulo, envia à morte seus cortesãos e efetivamente se precipita ao matar Laertes?”
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Em: A INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS, vol. IV, p. 288 -  ( ÉDIPO) :

Oedipus Rex é o que se conhece como uma tragédia do destino. Diz-se que seu efeito trágico reside no contraste entre a suprema vontade dos deuses e as vãs tentativas da humanidade de escapar ao mal que a ameaça. A lição que, segundo se afirma, o espectador profundamente comovido deve extrair da tragédia é a submissão à vontade divina e o reconhecimento de sua própria impotência. Os dramaturgos modernos, por conseguinte, tentaram alcançar um efeito trágico semelhante, tecendo o mesmo contraste num enredo inventado por eles mesmos. Mas os espectadores ficaram a contemplar, impassíveis, enquanto uma praga ou um vaticínio oracular se realizava apesar de todos os esforços de algum homem inocente: as tragédias do destino posteriores falharam em seu efeito.
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Em: PERSONAGENS PSICOPÁTICOS NO PALCO 1905, vol. VII, p. 292 – (TEATRO)

Se a finalidade do drama, como se supõe desde os tempos de Aristóteles, consiste em despertar “terror e comiseração”, em produzir uma “purgação dos afetos”, pode-se descrever esse propósito de maneira bem mais detalhada dizendo que se trata de abrir fontes de prazer ou gozo em nossa vida afetiva, assim como, no trabalho intelectual, o chiste ou o cômico abrem fontes similares, muitas das quais essa atividade tornara inacessíveis. Para tal finalidade, o fator primordial é, indubitavelmente, o desabafo dos afetos do espectador; o gozo daí resultante corresponde, de um lado, ao alívio proporcionado por uma descarga ampla, e de outro, sem dúvida, à excitação sexual concomitante que, como se pode supor, aparece como um subproduto todas as vezes que um afeto é despertado, e confere ao homem o tão desejado sentimento de uma tensão crescente que eleva seu nível psíquico.
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Em: DELÍRIOS E SONHOS DE GRADIVA DE JENSEN, 1906, vol. IX, p. 225 – (LITERATURA):
           
 E os escritores criativos são aliados muito valiosos, cujo testemunho deve ser levado em alta conta, pois costumam conhecer toda uma vasta gama de coisas entre o céu e a terra com as quais a nossa filosofia ainda não nos deixou sonhar. Estão bem adiante de nós, gente comum, no conhecimento da mente, já que se nutrem em fontes que ainda não tornamos acessíveis à ciência. Mas se esse apoio dos escritores a favor de os sonhos possuírem um significado fosse menos ambíguo! Um crítico mais severo poderia objetar que os escritores não se manifestam nem contra nem a favor de os sonhos terem um significado psíquico, contentando-se em mostrar como a mente adormecida se contorce sob excitações que nela permaneceram ativas como prolongamentos do estado de vigília.

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Em: RESPOSTA A UM QUESTIONÁRIO SOBRE LEITURA – (LITERATURA):

“Indicarei, portanto, dez ‘bons’ livros que me vieram à mente sem muita reflexão.

Multatuli, Cartas e Obras. [Cf. pág. 138 n.]
Kipling, Jungle Book.
Anatole France, Sur la pierre blanche.
Zola, Fécondité.
Merezhkovsky, Leonardo da Vinci.
G. Keller, Leute von Seldwyla.
C. F. Meyer, Huttens letzte Tage.
Macaulay, Essays.
Gomperz, Griechische Denker.
Mark Twain, Sketches”

 (Resposta a um questionário sobre leitura, 1906, vol.IX, p.225)


Em: ESCRITORES CRIATIVOS E DEVANEIOS, 1908, vol. IX, p. 135 – (LITERATURA)

Nós, leigos, sempre sentimos uma intensa curiosidade — como o Cardeal que fez uma idêntica indagação a Ariosto — em saber de que fontes esse estranho ser, o escritor criativo, retira seu material, e como consegue impressionar-nos com o mesmo e despertar-nos emoções das quais talvez nem nos julgássemos capazes. Nosso interesse intensifica-se ainda mais pelo fato de que, ao ser interrogado, o escritor não nos oferece uma explicação, ou pelo menos nenhuma satisfatória; e de forma alguma ele é enfraquecido por sabermos que nem a mais clara compreensão interna (insight) dos determinantes de sua escolha de material e da natureza da arte de criação imaginativa em nada irá contribuir para nos tornar escritores criativos.
Se ao menos pudéssemos descobrir em nós mesmos ou em nossos semelhantes uma atividade afim à criação literária! Uma investigação dessa atividade nos daria a esperança de obter as primeiras explicações do trabalho criador do escritor. E, na verdade, essa perspectiva é possível. Afinal, os próprios escritores criativos gostam de diminuir a distância entre a sua classe e o homem comum, assegurando-nos com muita freqüência de que todos, no íntimo, somos poetas, e de que só com o último homem morrerá o último poeta.”

“O escritor criativo faz o mesmo que a criança que brinca. Cria um mundo de fantasia que ele leva muito a sério, isto é, no qual investe uma grande quantidade de emoção, enquanto mantém uma separação nítida entre o mesmo e a realidade. A linguagem preservou essa relação entre o brincar infantil e a criação poética. Dá [em alemão] o nome de ‘Spiel‘ [‘peça’] às formas literárias que são necessariamente ligadas a objetos tangíveis e que podem ser representadas. Fala em ‘Lustspiel‘ ou ‘Trauerspiel‘ [‘comédia’ e ‘tragédia’: literalmente, ‘brincadeira prazerosa’ e ‘brincadeira lutuosa’], chamando os que realizam a representação de ‘Schauspieler‘ [‘atores’: literalmente, ‘jogadores de espetáculo’]. A irrealidade do mundo imaginativo do escritor tem, porém, conseqüências importantes para a técnica de sua arte, pois muita coisa que, se fosse real, não causaria prazer, pode proporcioná-lo como jogo de fantasia, e muitos excitamentos que em si são realmente penosos, podem tornar-se uma fonte de prazer para os ouvintes e espectadores na representação da obra de um escritor.”

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Em: LEONARDO DA VINCI E UMA LEMBRANÇA DE SUA INFANCIA, 1910, vol. XI  –  ( SUBLIMAÇÃO)

 “Uma pessoa desse tipo poderia, por exemplo, dedicar-se à pesquisa com o mesmo ardor com que uma outra se dedicaria ao seu amor, e seria capaz de investigar em vez de amar. Aventuramo-nos a asseverar que não será somente no caso Da pulsão de investigação que terá havido uma intensificação sexual mas, também, em muitos outros casos em que um instinto se torne sobremodo intenso.
A observação da vida cotidiana das pessoas mostra-nos que a maioria conseguiu orientar uma boa parte das forças resultantes da pulsão para sua atividade profissional. A pulsão sexual presta-se bem a isso, já que é dotada de uma capacidade de sublimação: isto é, tem a capacidade de substituir seu objetivo imediato por outros desprovidos de caráter sexual e que possam ser mais altamente valorizados”. (P. 86)


 “Será que nada existe na obra de Leonardo para testemunhar aquilo que sua memória conservou como uma das impressões mais fortes de sua infância? Deveríamos certamente poder encontrar alguma coisa. [...] Qualquer pessoa que pense nas pinturas de Leonardo recordar-se-á de um sorriso notável, ao mesmo tempo fascinante e misterioso, que ele punha os lábios de seus modelos femininos. É um sorriso imutável, desenhado em lábios longos e curvos; tornou-se uma característica do seu estilo e o termo `Leonardiano’ tem sido usado para defini-lo. Este sorriso no rosto estranhamente lindo da florentina Mona Lisa del Giocondo tem causado, em todos que o contemplam, os efeitos mais fortes e controvertidos. [Ver Lâmina II.] Este sorriso requer uma interpretação e de fato tem merecido as mais variadas explicações sem que nenhuma ainda tenha conseguido satisfazer”. ( p.  113)

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Em: “O INTERESSE CIENTÍFICO DA PSICANÁLISE”, 1913, vol. XIII – (A ARTE E O ARTISTA): 

“A psicanálise esclarece satisfatoriamente alguns dos problemas referentes às artes e aos artistas, embora outros lhe escapem inteiramente. No exercício de uma arte vê-se mais uma vez uma atividade destinada a apaziguar desejos não gratificados — em primeiro lugar, do próprio artista e, subseqüentemente, de sua assistência ou espectadores. As forças motivadoras dos artistas são os mesmos conflitos que impulsionam outras pessoas à neurose e incentivaram a sociedade a construir suas instituições. De onde o artista retira sua capacidade criadora não constitui questão para a psicologia. O objetivo primário do artista é libertar-se e, através da comunicação de sua obra a outras pessoas que sofram dos mesmos desejos sofreados, oferecer-lhes a mesma libertação. Ele representa suas fantasias mais pessoais plenas de desejo como realizadas; mas elas só se tornam obra de arte quando passaram por uma transformação que atenua o que nelas é ofensivo, oculta sua origem pessoal e, obedecendo às leis da beleza, seduz outras pessoas com uma gratificação prazerosa. A psicanálise não tem dificuldade em ressaltar, juntamente com a parte manifesta do prazer artístico, uma outra que é latente, embora muito mais poderosa, derivada das fontes ocultas da libertação instintiva. A conexão entre as impressões da infância do artista e a história de sua vida, por um lado, e suas obras como reações a essas impressões, por outro, constitui um dos temas mais atraentes de estudo analítico.” (P.189)

“Quanto ao resto, a maioria dos problemas de criação e apreciação artística esperam novos estudos, que lançarão a luz do conhecimento analítico sobre eles, designando-lhes um lugar na complexa estrutura apresentada pela compensação dos desejos humanos. A arte é uma realidade convencionalmente aceita, na qual, graças à ilusão artística, os símbolos e os substitutos são capazes de provocar emoções reais. Assim, a arte constitui um meio-caminho entre uma realidade que frustra os desejos e o mundo de desejos realizados da imaginação — uma região em que, por assim dizer, os esforços de onipotência do homem primitivo ainda se acham em pleno vigor”. (P.189)

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 Em: O MOISÉS DE MIGUELANGELO:

“Outras dessas inescrutáveis e maravilhosas obras de arte é a estátua de mármore de Moisés, da autoria de Michelangelo, situada na Igreja de San Pietro in Vincoli, em Roma. Como sabemos, ela constitui apenas um fragmento da tumba gigantesca que o artista deveria ter erigido para o poderoso Papa Júlio II. Sempre me deleita ler uma frase apreciativa sobre essa estátua, tal como ser ela ‘a coroa da escultura moderna’ (Grim [1900, 189]), porque nunca uma peça de estatuária me causou impressão mais forte do que ela. Quantas vezes subi os íngremes degraus que levam do desgracioso Corso Cavour à solitária piazza em que se ergue a igreja abandonada e tentei suportar o irado desprezo do olhar do herói! Às vezes saí tímida e cuidadosamente da semi-obscuridade do interior como se eu próprio pertencesse à turba sobre a qual seus olhos estão voltados — a turba que não pode prender-se a nenhuma convicção, que não tem nem fé nem paciência e que se rejubila ao reconquistar seus ilusórios ídolos”. (P.319  )

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Em: SOBRE A TRANSITORIEDADE, 1916, vol. XIV – (ARTISTAS):

“Um ano depois, irrompeu o conflito que lhe subtraiu o mundo de suas belezas. Não só destruiu a beleza dos campos que atravessava e as obras de arte que encontrava em seu caminho, como também destroçou nosso orgulho pelas realizações de nossa civilização, nossa admiração por numerosos filósofos e artistas, e nossas esperanças quanto a um triunfo final sobre as divergências entre as nações e as raças. Maculou a elevada imparcialidade da nossa ciência, revelou nossos instintos em toda a sua nudez e soltou de dentro de nós os maus espíritos que julgávamos terem sido domados para sempre, por séculos de ininterrupta educação pelas mais nobres mentes. Amesquinhou mais uma vez nosso país e tornou o resto do mundo bastante remoto. Roubou-nos do muito que amáramos e mostrou-nos quão efêmeras eram inúmeras coisas que consideráramos imutáveis. [...] Quando o luto tiver terminado, verificar-se-á que o alto conceito em que tínhamos as riquezas da civilização nada perdeu com a descoberta de sua fragilidade. Reconstruiremos tudo o que a guerra destruiu, e talvez em terreno mais firme e de forma mais duradoura do que antes”. (P. 237)



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Em: O ESTRANHO, 1919, vol. XVII – (ESTÉTICA):

“Só raramente um psicanalista se sente impelido a pesquisar o tema da estética, mesmo quando por estética se entende não simplesmente a teoria da beleza, mas a teoria das qualidades do sentir. O analista opera em outras camadas da vida mental e pouco tem a ver com os impulsos emocionais dominados, os quais, inibidos em seus objetivos e dependentes de uma hoste de fatores simultâneos, fornecem habitualmente o material para o estudo da estética. Mas acontece ocasionalmente que ele tem de interessar-se por algum ramo particular daquele assunto; e esse ramo geralmente revela-se um campo bastante remoto, negligenciado na literatura especializada da estética.
O tema do ‘estranho’ é um ramo desse tipo. Relaciona-se indubitavelmente com o que é assustador — com o que provoca medo e horror; certamente, também, a palavra nem sempre é usada num sentido claramente definível, de modo que tende a coincidir com aquilo que desperta o medo em geral. Ainda assim, podemos esperar que esteja presente um núcleo especial de sensibilidade que justificou o uso de um termo conceitual peculiar. Fica-se curioso para saber que núcleo comum é esse que nos permite distinguir como ‘estranhas’ determinadas coisas que estão dentro do campo do que é amedrontador”. (p. 237)
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Em: DOSTOIEVSKI E O PARRICÍDIO, 1928, vol. XXI – (LITERATURA)

“Quatro facetas podem ser distinguidas na rica personalidade de Dostoievski: o artista criador, o neurótico, o moralista e o pecador. Como encontrar o caminho nessa desnorteadora complexidade?
O artista criador é o menos duvidoso: o lugar de Dostoievski não se encontra muito atrás de Shakespeare. Os Irmãos Karamassovi são o mais grandioso romance jamais escrito; quanto ao episódio do Grande Inquisidor, um dos pontos culminantes da literatura mundial, dificilmente qualquer valorização será suficiente. Diante do problema do artista criador, a análise, ai de nós, temos de depor suas armas”. (p. 237)